É como levar uma chapada. Clicamos no link, metemos "play", e a trip começa.
Ao início, não percebemos muito bem o que estamos a ouvir: a batida que surge como uma espécie de alucinação involuntária causada pela febre, acompanhada por uma voz distorcida e letras dificilmente óbvias, não são para todos.
O choque continua presente. E por mais que ouçamos as obras anteriores a "Gesso ou Gesso", ficamos sempre com aquela sensação de incómodo. Mas um incómodo que nos agrada: e é aqui que reside a genialidade deste senhor do robe. Muito mais do que um simples hypeman de Conjunto Corona, o Homem do Robe possui um talento natural para fazer música fora do vulgar, e é nas das batidas confeccionadas por Nite Fininho que HDR encontra espaço para soltar a sua lírica inusitada - um claro produto das suas vivências diárias, ali escarrapachadas sem dó nem ré.
E Homem do Robe não facilita: através de um qualquer processo meio aleatório, meio provocado, o facto é que, no fim de contas, este senhor pega na marreta e "é p'ra deitar tudo abaixo"!
Ali mesmo nos primeiros segundos, somos convidados a entrar numa espécie de coach-transe, uma massagem ao ego proporcionada por um qualquer pseudo-guru de esquina (uma crítica ao new-age?); assim vamos álbum adentro, já nem notando que fomos levados ao colo pela ambiência transcendental criada por este senhor de meia na cabeça.
E logo na segunda faixa, para nos matar a fome, é-nos servido um belo Rodízio de coisas legais e ilegais: francesinha. Martini. Tempero suspeito. Muito bom. Agora siga.
Avançamos no Saxo, enquanto se fazem algumas indecências no banco de trás. Ninguém fica ofendido, somos todos animais.
E como o descanso é fundamental, paramos uns quilómetros à frente, para uma Ganza no Café. Soube a pato.
Mas as contas não se pagam sozinhas, por isso toca a bulir: levantar pladur às seis da manhã! E não é que sirva de muito, pois como já tínhamos visto, "é p'ra deitar tudo abaixo"... O que nos vale é a presença de Logos, que cobra à hora e não admite falhas nos pagamentos! É assim mesmo.
Mais estrada. Mais trip. E um dilema: Gesso ou Gesso? O que escolhes? Pensa bem.
(O nosso animal espiritual vem ao de cima. "Olha, a mim calhou-me um pavão... vou só ali e já venho").
A viagem está boa. Ninguém quer sair, ninguém quer parar. E há mochos, sapos, céus celestiais... Assim vamos nós, neste Andamento Capital.
Estamos quase a terminar a nossa viagem, infelizmente, mas ainda nos resta um momento, por sinal um momento lúdico e pouco lúcido: O Homem do Robe dá-nos um workshop gratuito de DIY. Fazemos pastilhas, comprimidos, cheiramos gases, mas sobretudo batemos o pezinho ao som desta última faixa, que fecha o álbum com chave de ouro. É até cair p'ró lado!
No fim de contas, estamos imensamente gratos por esta viagem alucinante, que nos permitiu não só conhecer um pouco melhor o Homem do Robe, mas também alargar os nossos horizontes sonoros. E ficamos ansiosamente à espera de mais.
Com uma sonoridade muito própria, abrangendo várias influências estéticas que vão da dance music ao nonsense humorístico, este álbum apresenta uma identidade única. Sempre na linha da sua própria filosofia de vida e de arte, apresenta-se como um projecto que vale a pena conhecer e apreciar.
O álbum foi totalmente produzido por Nite Fininho, com pós-produção do nosso já estimado David Bruno (DB) e masterização de Janga.